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A vida por um fio na porta de hospital em Manaus


Por Raimundo de Holanda

23/04/2020 18h55 — em
Bastidores da Política


  • Manaus tem uma rede de saúde cara e ineficiente, que trata os mais pobres como se fossem apenas uma “coisa”. A vida precisa fazer sentido e não faz.

Está claro na Portaria 1.820/2009 do Ministério da Saúde, que “nas  situações de urgência/emergência, qualquer serviço de saúde deve receber e cuidar do cidadão,  bem como encaminhá-lo para outro serviço no caso de necessidade.” Como toda norma, foi escrita para ficar no papel. No país de tantas leis, tantos protocolos, tantas portarias, a regra geral é levar as coisas com a barriga e empurrar responsabilidades, num ciclo de indiferença que humilha, envergonha e mata.

Nesse virar de costas para a sociedade, quem sofreu foi Amália Brandão Ribeiro,53 anos, cujos familiares travaram uma penosa batalha  pela sua vida em frente ao hospital Nilton Lins na tarde de quarta-feira.  Perderam a guerra, mas deixaram expostas as feridas de um sistema de saúde que todos já  sabiam que não funcionava, mas não que estava contaminado pela indiferença com a vida, não que fugia a protocolos, não que negasse atendimento a um caso suspeito de coronavírus.

O hospital de retaguarda não cumpriu seu papel, ou sua direção não entendeu que ele se destina a se colocar na dianteira do combate a pandemia. Mas ainda assim, seus médicos, enfermeiros e sua direção não podem fugir a regra básica que lhes cabe: atender a qualquer cidadão em casos de emergência, independentemente de sua doença, e encaminha-lo para outros centros de atendimento, quando necessário.

O tempo que levaram para atender a Amália - veja vídeo - pode ter significado a sua morte.

A história dela se confunde com centenas de outras, contadas à porta do maior cemitério de Manaus: era hipertensa, diabética e estava gripada há 15 dias. Foi a dois centros de saúde e saiu de lá com a recomendação de ficar em casa,  pois estaria  com uma virose. Na quarta-feira sua situação piorou - tossia muito , sentia dores no peito, falta de ar. Sintomas do Coronavirus.

 

 

Foi levada pela Família para o Hospital Nilton Lins - um suposto centro de referência no tratamento da covid. Encontrou a porta fechada. Seguranças impediram a entrada, a família entrou em desespero. O resto da história está no video acima.

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ASSUNTOS: COVID-19, governo do amazonas, MORTOS EM MANAUS, pandemia, Coronavírus

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.