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Depois da chuva em Manaus, o choro


Por Raimundo de Holanda

28/03/2024 21h03 — em
Bastidores da Política


  • Com o forte temporal de quarta-feira em Manaus, os igarapés que cortam a cidade ganharam sobrevida e empurraram o lixo para dentro das residências como se expelissem das entranhas as feridas causadas pela civilização.

O vento forte chegou arrebentando telhados e atrás veio a chuva, que alagou ruas, casas, isolou famílias em carros, arrastou o asfalto. Os 100 igarapés que ainda não foram aterrados em Manaus ganharam sobrevida  e empurraram o lixo para dentro das residências como se expelissem das entranhas  as feridas causadas pela civilização. 

Foi uma quarta-feira angustiante, mas a chuva era previsível e os estragos que provocaria. Como eram previsíveis o desmoronamento de barrancos e a perda dos poucos bens  dos que vivem em cima do perigo.

Outras chuvas virão e a tragédia se repetirá. As vítimas serão as mesmas. Estarão nos mesmos lugares...

A questão é o porque as coisas não mudam e porque Manaus foi transformada em uma grande favela nos últimos 40  anos e não parou de produzir pobreza, desigualdade, violência.

Culpar o prefeito é a coisa mais simples, embora a raiz da questão seja outra: a cidade, com 2,2 milhões de habitantes é inadministrável. 

Não há milagre. A desorganização fundiária vem de 50 anos atrás e trouxe com ela o crime organizado, políticos populistas que se aproveitavam da ignorância do povo para formar governos de um só grupo. A política do atraso perdura até hoje. E não se transforma nada que não seja pela política. Pela boa política, aquela na qual o eleitor não apenas vota, mas cobra, fiscaliza. 

A questão é que boa vontade sem dinheiro tem resultado zero. Manaus precisa melhorar a arrecadação para atender as  demandas que lhe são impostas. Manaus não é uma cidade estado, é o estado, pelo seu PIB, que não representa nem de perto sua parca arrecadação. E nesse particular é necessária a redivisão, a partilha justa do bolo tributária com a cidade. 

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ASSUNTOS: chuvas Manaus

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.